21.11.08

Renascer

Por vezes é bom abrir os olhos antes do sol, sentir a brisa gélida da penumbra, a morte do sono do dia... o cheiro de mato úmido tomando as fossas das minhas narinas,as gotas d'água repousando no encontro das folhas, os pássaros arriscando seus primeiros vôos do dia, o perfume das coisas como se estas, nascessem para o mundo agora, neste exato instante de tempo. essa ilusão de que o mundo renascera com esse fio de calor que rasga as nuvéns do pós - madrugada, este fio de calor perdido nas primeiras piscadas do sol, essa sensação pacífica de estar vivo, é revigorante.



Led zeppelin - No quarter

18.11.08

Virginia Woolf - Waves


Minha tentativa de tradução, com o perdão de uma coisa ou outra perdida pela falta de palavras similares ou pela minha ignorância com o inglês, espero que a idéia prima do texto de Virginia não se esconda na tradução, todo caso, deixo o link do original :

Ondas


O sol ainda não tinha subido. O mar fez - se indistinguível do céu, com exceção de que o mar estava um pouco amassado, como se fosse um tecído enrrugado em si. Gradualmente, como o céu esbranquissando, estabelecerndo uma linha escura no horizonte, dividindo o mar do céu cinzento, o tecído ficou preso sob pancadas grossas, o mar em movimento, uma pancada após outra, sob a superfície, seguindo-se mutuamente, prosseguindo - se mutuamente, perpetuamente...

Céu e mar aproximando - se do litoral, cada barra rosa, violentando a si mesmo, e quebrando e varrendo um fino véu de água em toda a areia branca. A onda mansa, e, em seguida, chamou mais uma vez, suspirando como uma pessoa que dorme, cujo o sopro vem e vai inconscientemente. Gradualmente, a barra escura no horizonte, como se tornou evidente o sedimento, como em garrafas de vinho com o vidro escurecido em verde. Atrás dela, também, como se o céu feito límpido e o sedimento branco havia se perdido, ou como se o braço de uma mulher escrevesse sob o horizonte, trazendo luz, levantado uma lâmpada plana e barras de cor branca, verde e amarela, espalhadas pelo céu como as lâminas de um ventilador. Então ela levantou a sua lâmpada mais alto e o ar parecia tornar-se fibroso, lacrimejante e distante da superfície verde, piscando em vermelho vivo, como as fibras em amarelo esfumacento, fogo que ruge de uma fogueira. Gradualmente, as fibras da fogueira queimam e formam uma névoa seca, uma incandescência que levantou o peso do céu cinzento por cima dela, e ela virou um milhão de átomos leves em azul. A superfície do mar lentamente se tornou transparente e formou ondas onduladas e espumantes, até o horizonte das listras escuras, e quase além. Lentamente, o braço que acendeu a lâmpada se levantou mais alto, se pos maior, então a chama tornou visível de forma ampla, um arco de fogo queimando sobre o aro do horizonte, e tudo que ronda o mar alardeou - se em ouro.

A luz assolou sobre as árvores do jardim, sobre uma folha transparente e depois outra. Um pássaro gorjeou alto; houve uma pausa; um outro gorjeou uma outra vez, mais baixo. O sol vívido nas paredes da casa, e descansaram como a ponta de um ventilador após um branco ôpaco, cego, e pintou de azul com um dos dedos a sombra das folhas pela janela do quarto. O ôpaco, o cego, ligeiramente agitado, mas foi tudo tão intimista, tão obscuro e imaterial. Os pássaros cantavam em branco sua melodia do lado de fora.

Mais sabor

O cigarro já há alguns dias no bolso, papel emrrugado e até com alguns rasgos, destes assim o trago é dos mais que amargos, mal vem e a fumaça... esta mal sai dos pulmões. dia branco, como se estivesse aprisionado dentro de uma caixa de isopor, ar rarefeito com um vento ou dois só pra não ter a convicção que o dia está morto e apodrecendo, por vezes é como se tragasse o cigarro ao contrário, da brasa pro filtro, o mais quente e o mais amargo possível, trago às náuseas; pro inferno com as náuseas e com as gotas graves do pré - chuva, meus óculos totalmente ilegíveis e encharcados, mal vejo os buracos engasgados com a água suja de suas poças, que me importa ver? ver é dos sentidos o mais enganoso, meu olfato e meu paladar são mais confiáveis que o tato e que meus olhos doentes. o cigarro agredido tem mais sabor que o protegido dentro da caixa, o dia agredito tem mais sabor que o protegido da chuva, amargo e forte? que importa. enrrugado e com rasgos, os céus e o cigarro. O que faz valer é que tem mais sabor.



Mad season - I don't know anything

Verlaine e Rimbaud

Ditos meus sobre os versos franceses ...


A lua branca
afaga o rosto das cousas.
acende tudo ao qual é,
e dentre o entrelassado das flores
me afaga uma voz que
a meus ouvidos não demora

Oh, minha senhora!



No espelho verde do rio,
se desenha em círculos trêmulos,
o traço noturno das flores brancas,
cáliçes curvos e servos
que ao vento reverenciam.

O nós que entre tu e eu caminham...


Como é precisa
a imperfeita luz da lua
nua e trepidante
que num instante faz do tudo, tanto
e do tanto, instante.

Do etério, o minuto mais importante.



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Ó estações, Ó castelos!
Ó armadura de ossos e peito nu!
Que alma é livre de máculas?

E li na folha rasgada
Que o amor na paz nunca faz morada.


Armadura de ossos e peito nu,
Que me cobra teu nome
Quando ouço o pássaro azul.


Ah! razão morta e bruta!
Num gole de vida, n'outro de Cicuta.
Tomou - me o tempo de hora em hora,
Este alento que tarta, tarta e demora.

Ó armadura de ossos e peito nu!

Quando tu partires de mim,
Nada restará enfim.

Ó armadura de ossos e peito nu!

17.11.08

Bocage

Um pedido do que é doce, não se recusa...
versos sobre O Suspiro, de du Bocage.


Plana,voa... infante suavidade,
Herdeira da paz do templo de mim,
Cantai - me a calmaria, e por fim
Tirai - me do sorríso a brevidade.

Povoai os ouvidos de perfume,
Dá vida a tudo que triste jazeu,
e da paz mansa que em mim nasceu,
Despeja aos céus, desfaz todo azedume.

E quando a paz se entortar do caminho
meu, Quando a luz quizer se amornar,
Quando no fim do dia eu for sozinho...

Sussuras a Luz para me morar,
Fazer meu sonho um luminoso ninho,
Fazeis de mim, um canto bom pr'amar.

Um láspo etério

Um lápso etério. um lápso fulminante e etério da casualidade das cousas, as esferas cintilantes da perfeição do simplório e mágico simplório de estar com o que traz bem estar. um sorríso - dois quartetos de perfeição, poesia e meia de roubar do sol a claridade necessária de merecer o dom de senhor do dia. essas coisas de nuvéns brancas e céu meticulosamente azul, como um jarro de flores brancas debruçado no vão azul de uma realidade dormida, realidade sonhada com as tintas mais perfeitas que se pode sujar as retinas. " Uns tomam éter, outros cocaína. Eu tomo alegria! Eis aí por que vim assistir a este baile de terça-feira gorda." Um homem que se vê menino n'uma poça arredondada d'água e que sente na palma morna da mão de uma moça, a paz obtusa que faz do seu sorríso pedaços quebradiços sobre a rua, o chão de pixe repleto de pedaços de sorrísos de canto de boca, vindos de um corpo onde a façe se perde num encanto de sorríso de menina, sorríso de fechar os doces olhos de menina."Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria. Tenho todos os motivos menos um de ser triste..." . Por vezes a vida te rouba da monocromática realidade, com apenas um sorríso, com apenas um lápso etério de tempo cravado no rosto e no sorríso desmedido de uma menina.


Ben kweller - Thirteen