24.4.09

Prumo

As calçadas mais sujas são as dos meus pés, as pernas e os dedos mais longos são os meus, posso tocar quase tudo, mas o tácto é quase imperceptível, meio dormente como caimbras ou areia nos olhos. posso ver os transeuntes a desviar das minhas pernas, daqui do alto apenas o ar acinzentado e os pensamentos colocam desvio sobre mim, pensamentos como pássaros doentes, pousados nos galhos das minhas orelhas, com suas penas crespas e saltadas, formando um casulo sobre seu frágil corpo, pássaros doentes... pensamentos libertos sobre minhas orelhas feitas galhos. daqui de cima por vezes permito - me não pensá - los, por vezes também concedo - me não olhar o entorno, eu e minhas pernas grandes de madeira corroída, deixo - me aos cupins, e vou sem religiosidade ou ateísmo com nada, somente deixo estar no estalo do chão, sem por coerência, sem fazer peso, no sopro grave do vento. é um prumo certo, é o prumo das árvores e dos postes e das horas, é o tempo coeso de saber metódicamente de si, é o prumo dos pássaros que voaram tão libertos e fírvulos no tempo de voar, e que se aceitam murchos e secundários a espera, num canto morno de árvore, no canto esquecido por agora nos galhos das minhas orelhas.


Damien jurado - Eye for windows

23.4.09

Bukowskis no poder

Sentados aos bares da auto idolatração, são todos uns Bukowskis, são todos poetas, indiscutivelmente poetas, com suas garrafas, seus cigarros pretos e suas palavras pingadas do aurélio, são todos uma criatividade vívida e desenfreada em html, xml, iml da desconstrução orgânica do que é poema, arte e essas coisas de acrescentar, um newbeatlight quem sabe assim denomiado, cult, underground e todas essas porcarias do estrangeirísmo das pompas, é todo mundo bom demais, e por onde andam os ruins? é tudo um mar de merda que se segue a lugar algum. que deus perdoe a generalização e bukowski a comparação.

os "poetas" de hoje não sabem nada e fingem saber tudo.
ainda prefiro o tempo dos poetas que sabiam tudo e fingiam não saber nada.

"Não sou nada. Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada. À parte isso,
tenho em mim todos os sonhos do mundo."

Fernando pessoa.

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