12.4.16

Os amores mais loucos

Os amores mais loucos,
são assim os mais poucos,
na vida.
por que nos interrompem na vinda,
como quem para de fronte a uma vista linda.
por que amarelam e borram as memórias,
na ida.

Os amores mais loucos,
os dos remédios, das ansiedades,
os que desmentem as óbvias verdades,
que rasgam as sanidades,
os que correm das obviedades,
que desaprumam a lida,
são assim os mais poucos,
na vida.

Os amores mais loucos,
destes que açoitam o peito,
que deixam o ser assim, sem jeito,
que mesmo em desaprumo soa amor perfeito,
mesmo com a alma toda perdida,
e a paixão em cacos partida,
são assim os mais poucos,
na vida.

E só Deus viu passar,
e por isso me sorriu na minha dor,
por saber do meu penar,
por sentir o meu amor,
por tocar meu rosto triste e me consolar,
por que seus filhos assim,
são assim os mais poucos,
na vida.
Talho


Sempre apaixonada,
sempre caçando um canto,
sempre contando um conto,
sempre trocando um tanto,
sempre fugindo em bando,
sempre assim a vida tocando,
pois sempre fica enjoada.

Sempre desinteressada,
sempre pela metade,
sempre desajeitando a verdade,
sem muito gosto pela piedade,
sempre com a presença apressada.

sempre em pulso a alma que fita,
sempre com olhar desassossegado,
com tempo medido, regrado,
um pé no presente, outro no passado,
num partir descompassado,
num aqui nunca firmado,
num futuro ritmado,
num ir e ir e ir de alma aflita.

sempre remendando,
sempre cosendo um ponto, costurando,
um pano em outro pano emendando,
um talho em outro talho se descarnando,
um beijo em outro beijo remendando,
sempre frustrando e se frustrando,
sempre pela paz distante ansiando,
de atalho em atalho caminhando,
sempre no retorno a si repousando:
coberta com o lençol de pano,
que coseu tentando e tentando e tent...
por tanto se enjoar.
por dançar a vida em desassossego.