10.11.09

A estação

Os sonhos estalados em arvoredos murchos de outono, idéias tão singelas que o tempo esfarrapou nos cantos das horas, como poeira que corre como as crianças dentro de casa. eu escrevo num estalo só, como uma chuva de cinco minutos, dessas de verão, todas as estações em menos de oito vírgulas, em menos de oito tempos meus, oito notas minhas, oito estalos de arvoredos desfeitos em oito segredos que se esfarrapam pelo chão.

As calçadas das horas, as calçadas das horas e dos outros tão distantes como um eu que desconheço e por vezes até evito.
- são todos estrangeiros amontoados em si própios.
como um trêm lotado de gente que só olha pelas janelas, que só vê o reflexo agudo e distante dos arvoredos e uma silueta ensolarada de si, nada além.
assim segue o trêm do avesso, do estranho, do não. mas aceito o mau me quer dos outros, o mau me quer de mim, aceito como aceito o sol fino e açucarado do amanhecer na estação de trêm, aceito como o pássaro que canta para si mesmo no galho murcho do arvoredo que dá para a entrada da estação, aceito como o velho homem que já tão cedo senta - se no banco de fronte a entrada da estação, do outro lado da rua e observa, o mar de pernas tão estranhas entre si, observa com seus olhos já tão cansados da vida, as pernas que já tão cedo seguem já cansadas da vida, sem se conhecer umas as outras.


e o tempo segue, esfarrapado por entre os cantos da casa.
e o trêm segue...

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