23.12.08

Azul e pardo

Da janela do coletivo eu vejo a tarde desmanchando o azul em tons pardos, mesmo com os vidros fechados se pode sentir o cheiro típico da brisa fria do fim da tarde, daquelas que assoviam... que fazem dançar os plásticos e os papéis amassados e irrecicláveis dos cantos da sarjeta. gente irreciclável e amassada correndo sobre o verde acinzentado do Ibirapuera, da janela do coletivo eu vejo tantas grandes pequenas coisas.
Se você olhar para o canto da avenida e simplesmente olhar, nas linhas pontilhadas das faixas, elas viram uma única linha, branca e uniforme. se você olhar os rostos, às dúzias nos pontos, se você apenas olhar, de forma simples, eles se tornaram abstratos, como um segmento pontilhado e branco no asfalto... como uma imagem secundária, borrando o límpido do pósvir na vidraça do coletivo.
Eu encosto minha testa no incolor cheio de arranhões da vidraça, o mundo corre num gerúndio azul e pardo, o mundo corre desesperado sobre meus olhos mansos e certos do que não sabem, exatos e sem surpresas do que nunca viram, do que nunca virão. exatos como o azul e pardo do fim da tarde, do assovio frio que pressageia a noite, exatos como os vincos feitos aos arranhões no vidro outrora límpido da janela que escora meus olhos e meus pensamentos sobre o mundo que corre la fora, rápido e longe de mim, rápido e totalmente avesso a mim e a meus olhos pardos e azuis.


Mark lanegan - Bell black ocean