23.11.08

vinco dourado em brasa

eu rasgo os céus noturnos com um vinco dourado em brasa e aponto meus dedos como se fossem uma arma, em direção a fortuna desgraçada do incerto, meus erros propositais, e que não haja uma letra maiúscula aqui, que não me perdoem por nenhum berro chulo que meus passos débeis construírem neste chão público e de ninguém, meus ombros atritam com os desafortunados e lentos transeuntes dos cinco palmos de calçada que cabem aos com pernas e não com rodas, o estralo das vértebras do pescoço e um trago, dois tragos, eu sou o maldito gerúndio do verbo ir, o inacabado, o ineterrúpto, o inominado, sem um maldito ponto final, sem ao menos um maldito ponto final...


eu rasgo os céus noturnos com um estilhaço flamejante e vívido, disperçando fumaça por entre meus rachados lábios, e aponto meus dedos alvos e maculados de nicotina, como se fossem um enferrujado revolver, em direção a sorte da penumbra de cada esquina incerta, sem um parvo ponto final ou uma demente letra maiúscula


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" O olho vivo com que vês
Até o seu conteúdo
Me aparta de minhas vestes
E como um deus vou desnudo"


A vendedora de roupas
Stéphane mallarmé



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