27.3.09

Amargo

O fumo é mais amargo no canto rasgado de minha boca, sangue e tabaco, masco e rumino como uma vaca prestes a ser goupeada nas têmporas, uma consciência douda desta previsibilidade amarga das cousas por elas mesmas, o mundo numa metafísica de filme em preto e branco com picotes e queimaduras redondas nos cantos, aos montes. nestes filmes o moçinho nunca ri no final, apenas masca tabaco do lado rasgado da boca, tabaco e sangue adoçam as horas petrificadas dentro de minha boca que rasguei às mordidas, no meu hálito forte e morto de tabaco.


- e eu tão pequeno, assim tão menor...


Lanegan - Blues for D

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25.3.09

Anêmico

Do que me esqueço, o tempo descuidado com seus malabares de pensamentos ao chão, estilhaços indecifráveis de mim, desfalecidos e ilegíveis, cacos do que já não sou. o tempo me apanha e corta os dedos com as farpas finas do meu quebrado, e o sangue do tempo corre manso como os pensamentos sem obrigação, como o respirar do pensamento meu. as asas cortadas do meu tempo como ave coxa e de pés frios de tanto andar. meu tempo como o velho de barbas profundas e vida curta, que observa saudoso o pouco que o relógio ainda lhe resta. do que me esqueço, o tempo descuidado, andando com os pés feridos dos cacos de mim, deixa uma trilha fraca feita de horas, morrendo pouco a pouco, anêmico de qualquer coisa firmada, andando e sangrando às gotas. do que me lembro, do que me lembro o tempo não morre aos poucos.