18.10.09

Ébrio

O velho dançarino sem dama, maldito e bêbado a se entortar pelo meio fio, dança com o álcool a solidão de suas pernas, balança como se o chão fosse o fundo da panela das pipocas. roda pedaço de pano sujo que a rua desenhou uma boca de palhaço, boca de barro sujo, boca suja da sargeta, dança no vento doido que rodopia na dobra da rua. na boca o gosto do vinho, o ninho da uva podre, na mão o que coube foi o cobre do cabo do guarda chuva, uva podre dança no céu da boca, oca no véu do teto de estrelas e escombros, nos ombros tombos soluçantes de pensamentos que em instantes desabam como chuva. e a rima com ele desaba, e a música do álcool com ele desmaia...

e a lua em seu rosto parvo raia, um fio de branda chama, e a sargeta dura se faz macia cama, para o velho dançarino sem dama.


- e preto, seu guarda - chuva maltrapilho dorme armado caprichosamente nos enganchos da parede, sobre sua cabeça, e quem vê de longe, é como se um corvo que o amasse não quisesse permitir que a noite chuvosa lhe afogasse os sonhos.


.