19.3.09

O homem e o rato

Rato, é o nome geral dos mamíferos roedores da família Muridae. é a maior família de mamíferos existente na atualidade, cerca de 650 espécies, classificadas em cerca de 140 géneros e em cinco ou seis subfamílias...

Um homem aparentando 30/35 anos, cabelos sujos e roupas rasgadas, com dois sacos pretos cheios de algo, adentra o coletivo, olhos inquietos e perturbados, cheiro agudo, forte e desagradável do dormir nas sargetas, cheiro vívido do centro da cidade, respiração ofegante e movimentos descompassados com os dedos, uma mescla de ansiedade e fome, uma fusão orgânica de extremos da capacidade de estar vivo, de sobreviver.

O rato se reproduz de maneira muito intensa, podendo dar mais de cinco crias por ano, cada cria tendo até quinze filhotes. Na natureza a grande maioria destes filhotes não atinge o primeiro ano de vida, mas nas cidades, onde não há predadores, este ritmo de reprodução torna-se um grande problema. Ratos vivem em grupos e tem um sistema social extremamente bem desenvolvido, fazendo com que os indivíduos cooperem entre si em diversas tarefas...

Senta-se no degrau do coletivo, levanta-se, caminha, vai... volta, seus pés sujos e seu odor própio se fazem notar nos olhos e nas narinas dos sentados e dos de pé que habitam naquele dado instante, as entranhas do veículo de aço. fala só por alguns intantes, eis que se curva uma primeira vez, em direção a alguém sentado, cochicha timidamente algo, com seus olhos estalados e doentes e sua mão timidamente estendida, num ar de temor e desespero, esta primeira pessoa lhe balança a cabeça de forma negativa. ele se ergue e vai ao banco ao lado, um rosto diferente, mas tão igual, uma seqüencia de bonecos enfileirados com seus pequenos universos e seus crânios a balançar horizontalmente à mão suja e grossa do homem que tem fome.

O rato é um mamífero roedor. Na natureza é um importante animal na cadeia alimentar, mas nas cidades se transformou em praga e transmissora de doenças. Foi o principal responsável pelo alastramento da devastadora peste negra na Europa (uma pulga do rato transmitia a doença)...

Ele se coloca perdido para o descer do coletivo, portas do lado direito, do esquerdo, anda rápido e perdido à frente e aos fundos do ônibus, eis que a porta que ficava do meu lado se abre, antes de descer ele ergue a mão esquerda e diz com um sorríso dolorido e parvo:

"Olha gente, ganhei dez centavos!".

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18.3.09

No name

Árido, grosso na garganta como pingos graves de areia, as horas num relógio pungente de sangue em veias dilatadas. Ácido, gástrico subindo à boca como se dos infernos emergisse aos céus, um lápso agudo e em brasa de espírito, um risco alto e agudo de vida, um vinco sujo no meio do mar azul de ar e cinzas.


Sabe Deus que eu serei um borrão em brasa de encontro ao azul.
e que isso bastará ao mundo que me verá dissipar, a sorrir de mim.
e aos que me perderem ir, deixo o adeus dos anônimos,
o adeus discreto dos sem nome.


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