8.4.09

Quebra - rimas

È tudo uma farsa. mas você acredita na redondilha maior, no soneto e na rima heróica, infausto e breve, sonoro e frutífero... é tudo uma jogada arcáica e vil de como plantar sílabas nos ouvidos arados pela falta.

È tudo um faz de conta, mas você não se da conta, que o que conta não é o que foi contado, que é tudo um fio amarrado, e quando se faz desatado, a ilusão toda se desmonta. é tudo um diz que me diz, e entre o que se fez e o que se quis, há um mundo entre o rosto e a ponta do nariz, entre o que se tem e o que se queira, há um nasal feito de madeira, há uma verdade quebrada feito giz. e entre o que se versa e o que se fala, há a alma que treme e cala, há a boca que vibra e conversa, inversa de paz e calma, tropeça em feita vala, com pressa se põe sem mala, à cova do que jazera. é tudo um anel de cobre, fingido ser ouro nobre, que no dedilhar do paladar se esconde, se encobre, se disfarça... mas é tudo um jogo pobre, é a ferrugem no bonde que leva aonde se fecha o cíclo e se reinicia a farsa.


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6.4.09

Nau

As certezas trituradas num moinho,
as palavras destroçadas na moenda,
e desta arte, quanto mais se aprenda,
renda mór é, coser o ser sozinho.

o maço do cigarro já sem gozo,
as certezas pálidas, ao bagaço,
ao passo, a grama, a flor em estilhaço,
o brilho meu do aço silencioso.

o rasgado da nau branca no mato,
a Jasmim como esquadra naufragada,
como peça que era sem primeiro ato.

a certeza da hora é despedaçada,
como a intemperância da vida é fato,
a flor é vida enquanto perfumada.



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