15.7.10

À ferrugem

Do lado de dentro o vento é mais forte, mais frio.
mastigo o arame das minhas palavras, e é tudo um gosto morno de ferro, a língua dilacerada das palavras à ferrugem. do lado de dentro as palavras são o que mastiga a língua e os dentes, apenas assistem mudos o atritar dos pensamentos, quietos e encolhidos com o ar frio de dentro.


Há um inverno todo do lado de dentro.

e a cidade vai assim: longe,
com as mãos frias e os olhos perdidos de inverno.

do lado de fora o rosto da cidade é mais doce.
do lado de dentro o inverno veio ter comigo,
cativou meus dedos roxos e meus dentes cerrados.
cativou a ferrugem do meu sangue
e o arame farpado das minhas palavras.


- deixa estar o inverno das horas, deixa estar...



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