4.9.08

O dia acordou num "que" de simbolismo à Baudelaire. efeito da noite de olhos inquietos, provável. a tosse dos cigarros perdura e desta vez, trouxe consigo a amiga febre pra me acordar, com os braços suados e os lábios ressecados. sede sede. O lírico e o simbolista, amarrados num sorríso dolorido. o sorríso do tolo que chora sobre seus enganados dentes.


Remorso Póstumo
BAUDELAIRE, Jean Pierre
O Amor À Mentira





Slipknot - Iowa

3.9.08

Mais café que leite

Dia amanhece mais café que leite. tosse durante a noite, isso me fez lembrar que meus cigarros acabaram e que, preciso comprar mais hoje. Tenho que ontem foi um dos piores dias de minha vida, e estou me tornando perito em piores dias de uma vida, mas mesmo assim de certa forma dormi bem, tirando a tosse e os pensamentos à carne viva, antes do sono me atropelar aos galopes sem eu dar por mim. Amanhece, por que é natural da noite morrer no dia, por que é natural o cíclo de moenda das coisas, o moinho mundo cantado por Cartola, sim. Abro a porta e o sol viola meus olhos que mal acordaram, pégo alguma coisa na cozinha pra comer e o meu isqueiro, então me lembro que os cigarros acabaram, tudo bem, sem cigarros hoje. Acho que vou tirar o dia hoje pra ouvir Cartola, como uma espécie de água oxigenada pra limpar essas feridas da alma que me dão dias piores dia a dia. é, ouvir o velho Cartola, mal não há de fazer, não há não.




Cartola - O mundo é um moinho

2.9.08

Mas se você reparar

A sola dos meus pés como cascos. gastos, no asfalto destes dias, rastros como o som de melodias sem voz, daquelas de só ouvir e pensar, sem ver.

Desço do coletivo e mecanicamente meto a mão no bolso menor da mochila e procuro a carteira de cigarros. a acho, mas está vazia,há apenas um cigarro solto dentro do bolso, o economizo para depois. Então respiro dos carburadores o carbono menos puro que o do tabaco dos meus hollywood filtro amarelo. Atravesso o semáforo que já pisca em vermelho, corro corro. tempo destes pensei: será que algum motorista me atropelaria se eu andasse ao invés de correr? Subo o escadão que sai da Nove de julho e dá na Caio prado, sinto uma dor no peito do esforço, um cansaço pulmonar. sedentarísmo? nicotina? estar vivo organicamente ? é... estar vivo organicamente. espero mais um semáforo ser a meu favor à dos carros. já reparou que as pessoas ficam de cabeça baixa quando o semáforo demora mais de cinco segundos pra abrir? é para não olhar para você, para mim, é como estar na fila do banco, no ônibus superlotado ou como ter que conviver com alguém que lhe fez mal. Há um homem enrolado em um lençol no cruzamento da Consolação com a Caio prado. muitas, muitas pessoas se driblam para não se esbarrar enquanto atravessam. mas se você reparar, elas não se olham enquanto fazem isso. O homem permanece parado no meio fio, com seu lençol xadrez e seu odor forte e típico de quem faz morada nas ruas. Ele observa sem mover o rosto, apenas seus olhos seguem o movimento frenético das pernas que vão e vem. testa franzida, barba e cabelos espessos e grisalhos. meia altura e seu lençol xadrez em azul marinho. Fiquei parado e esperei o semáforo fechar para mim uma vez, observei a observação do homem e as pessoas que se desviavam sem se olhar. O homem observava a todos, mas ninguém olhou para o homem, apenas eu. o homem observou a todos, menos a mim. Encostado no poste do semáforo, com meu último holluwood filtro amarelo quase no fim, eu vi a cidade que anda olhando pro chão e desviando apressada do mundo. eu vi a cidade de testa franzida que observa o mundo se esquecer de si mesmo.



Cat power - Faces

31.8.08

Para cantá-la em seguida

È preciso matar um leão por dia, e mais... é preciso matar uma legião de leões por dia para poder sorrir com afinco, e mais... para poder ter a paz sucínta dos bons de coração, dos bons de espírito. É preciso ser um leão e matar um leão por dia, matar a si talvez? sim, talvez. Matar e reviver maior. O difícil da vida é o seu ofício de viver.


"... 0 tempo é escasso - mãos à obra.
Primeiro é preciso transformar a vida,
para cantá-la - em seguida.
Os tempos estão duros para o artista:
Mas, dizei-me, anêmicos e anões,
os grandes, onde, em que ocasião,
escolheram uma estrada batida?
General da força humana - Verbo - marche!
Que o tempo cuspa balas para trás,
e o vento no passado só desfaça um maço de cabelos.
Para o júbilo o planeta está imaturo.
É preciso arrancar alegria ao futuro.
Nesta vida morrer não é difícil.
O difícil é a vida e seu ofício."


- Maiakovski




Sonic youth - Diamond sea

Dígno de Corujas

Noite mal dormida. o sono por vezes se parece com aquele menino chato do colégio, que lhe dá um soco no estômago e sai correndo, ou uma moça que lhe beija o rosto de forma demorada, delicada... e que se vai sem nem olhar pra tras. O sono é um Deus sadista, senhor de marionetes. Ligo a tevê, desligo. religo a tevê, desligo dinovo. duas, três da manhã. números dispersos no visor de um maldito qualquer relógio. Pela manhã, cabeça pesada e dolorida, falta de apetite, olhos ardendo contra a luz do dia que já nasceu há tempos. este sim, dorme e acorda no horário certo, sem pormenores da insônia ou coisas minimalistas, que os humanos se dão ao luxo de trocar pelo descanso dos olhos dormentes. Um gosto amargo na boca, gosto de quem ruminou sonhos ruins e um sono dígno de corujas. Melhor ir lavar o rosto, roubar a boca do gosto amargo, acordar pro sol que hoje, mesmo com o vento frio, não se isolou atras das nuvens e veio olhar pra mim.




Portishead - Over