27.1.10

Ser

Ser eu, aceitar - me eu, é, sobretudo, acatar inexoravelmente o disperso exílio de todas as possibilidades de ser outro que não eu, ser outra coisa que não a coisa que se forma o eu. ser um eu é, irrestritamente, abdicar os outros trezentos e cinquenta e nove graus que me tomam a cada segundo findado este um eu e não outro eu, ser eu é um passado escolhido e acertado, indiferente de certo ou errado, é o feito e acabado, mesmo que inacabado, acabado em seu tempo está, acabado pelo tempo está, grafado como uma cicatriz na testa de um animal bruto ou de uma criança, ao alcance dos olhos inquietos do alheio.

é como a chuva que arrasta as folhas secas do trigal
ou o frio que queima o rosto aos soprões...


é a grafia do tempo, a escrita douda dos atos e desatos.
é o gerúndio que se desfará a qualquer instante.


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