23.12.09

Paroxítonas.

No fim é tudo carbônico. tudo ascende e declina numa velocidade inabalável, o fósforo no cigarro, o cigarro em meus dedos, meus dedos no ar, o ar em meus pulmões, meus pulmões no tempo, o tempo. o tempo é um ceifeiro louco abatedor de cabeças. incorruptível, inalcançável, todas as paroxítonas soberbas e irrevogáveis, o tempo o é.
o tempo é uma besta sem rédias carregando ante si a carroça torta dos meus dias, carroça de madeira podre sobre rodas de aço inoxidável,
paroxítonas titânicas, o tempo o é.
marteladas de carvão e carne, faiscas nos ossos e asfalto, corrói nervos e barro, pedras e pensamentos, o tempo o é.
as cordas frouxas entre minhas mãos rasgadas e o pescoço do monstro das horas sempre ficam neste quase escapa, neste quase enforca, no fim é tudo carbônico.

e o eterno é só uma gota de suor que escorre na testa do animal
que puxa a carroça maltratada de mim.

no fim é tudo um processo cartesiano - carbônico,
e o lúdico morre n'um canto mordido da boca.


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21.12.09

A cerca das Horas.

- A cerca das horas. Meu chapéu maior que o círculo laranja do sol, a cerca das horas gastas com palavras atadas as dobras dos meus dedos, medos maiores que o círculo do meu chapéu, que o céu, que o sol, que o que sou, que eu. A cerca das horas, eu desenho uma linha borrada em cinza num canto escuro do ar, eu borro o céu de monóxido de carbono, eu borro qualquer palavra minha com o abandono da rouquidão que o queimar morno do trago me torna. a cerca das horas mastigadas e das dobras das minhas palavras gastas com a dança dos meus dedos, são todos medos maiores, desenhos menores que não se firmam fora dos arvoredos do negrume das últimas horas do dia, cuj'a mão fia, a minha, o que tinha entre os dedos e a boca, entre a alma oca e os medos, a cinza dos meus pensamentos como cobra desmanchada no céu, um véu entre as pontas dos dedos e as dobras, as dobras a cerca das horas.

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