18.5.09

Louco

Uma gargalhada de cinco dentes esverdiados, como num campo de árvores podres e gastas. uma gargalhada demente e solitária, no meio do turbilhão do horário de rush, o louco perambula no meio dos transeuntes e não vê ninguém, os transeuntes perambulam ao redor do louco e não o vêem, enquanto não morder alguém com seus dentes verdes e podres, não será mais que o pombo ou a lata de cerveja amassada. as órbitas inquietas e vermelhas do louco percorrem cada rosto que corre em cada canto, a baba escorre de sua boca de gargalhandas parvas, os olhos como dois ratos prestes a morrer do coração, fibrilando, aterrorizados e elétricos, no meio da tempestade de pernas e sapatos prontos a os esmagar como insetos imprestáveis, que perambulam no meio fio nojento do centro da cidade. a espuma da baba como a da barba à lâmina, o sangue no corte da mão trêmula, o sangue amassado nos olhos velozes do louco. as vozes emaranhadas como a teia de uma aranha demente e atribulada, vozes como teias sem sentido e sem rumo, ecoam na cabeça do louco como fogos num velório, a tristeza do mundo comemorada aos fogos, a risada do mundo na boca doente do louco, no sorríso dos dentes verdes e podres do louco, nas lágrimas atormentadas e em brasa do louco. pois que em fim, o louco se coloca aos urros e às gargalhadas, e chora... como se vivesse tudo num segundo só, e o mundo segue, com suas pernas verdes e podres, seus passos soam como gargalhadas parvas e gastas, e os transeuntes se entrelaçam nessa teia atribulada, como ratos aterrorizados no meio da tempestade de insetos imprestáveis, como num campo de árvores podres e gastas, como se vivesse tudo num segundo só.


Tom waits - Going out west