25.6.09

Minha cabeça

Minha cabeça doi, doi às pontadas, aos latejos... dor que não esfria no gélido dos azulejos do banheiro, que não desfia nos aleijos do que seria o primeiro em minha própia cabeça, mas que não o é: - eu mesmo.


Minha cabeça borbulha como água fervendo para o café, minha cabeça é um gole de café grosso e sem açucar, amarga até perder o paladar; amarga de não se esquecer do fervor por não sair do paladar o amargor, singular e forte, minha cabeça má coada e doce como o asfalto que nunca dorme.


Minha cabeça cinza como os carros e as pessoas nas ruas, minha cabeça caótica e barulhenta como as seis da tarde, minha cabeça engarrafa e estridente no barulho que sai dos volantes aos murros, nas buzinas que ecoam nas outras cabeças que vazias, seguem mecanicamente para a frente, minha cabeça cheia de barulhos vazios e altos, minha cabeça de fronte ao semáforo que nunca abre, ouvindo todas as ofensas que o mundo se nega a ver.


Minha cabeça doi, mas o físico não sofre, a dor não corrompe meu crânio, minha cabeça doi no espírito, minha cabeça tem alma, sim... minha cabeça doi, mas a dor não mata a carne, a dor do espírito é como um osso na boca do cão, minha cabeça corroida das mordidas do cão dos meus pensamentos, minha cabeça como um orgão falído e decrépto...



A cabeça do meu espírito cruza a rua com toda a hipocondria do mundo,
e um punhado grande de dores verdadeiras.

_

Um comentário:

Anônimo disse...

Vc(É)uma mente privilegiada...
pague o preço,pague o preço da lucidez.