7.12.08

O primeiro calor da manhã

Acordar cedo e o cheiro frio, o cheiro de arder as narinas, o cheiro ácido da madrugada... Fazer a barba. três navalhadas e o sono me tira uma farpa de pele, um fio de sangue escorre, uma linha vermelha anda calmamente, vertical sobre o branco do sabão, um ardor morno, agudo, a navalha é mestra na arte de tirar sangue, o corte demora para calar - se, me rouba o sangue às gotas, às gotas. mochila surrada, sapatos e calças surradas, cara surrada, um vento duro e gélido no peito e um mundo surrado sob os passos, a pressa sobre o corpo que ainda dorme, as pernas forçadas a andar rápido, os pulmões a tragar o primeiro calor do dia, vindo dum filtro de Hollywood, toda paz do mundo amarrada na rudeza dos rostos duros no coletivo e nos berros eclodindo, berros bravíos do meu mp3, ecoando agressivos contra meu cansaço. Chego ao centro e o cheiro frio de urina do Anhangabaú me rouba um sorríso dolorido e grave, essa cidade toda está morta, as pessoas, as calçadas, as muretas, os pombos a ciscar, as paredes sujas e pixadas, toda a cidade como uma óde ao silêncio das cousas, a paz hiperbólica do que se observa calado, mesmo com os gritos dos pneus e os blabladear dos que não se entendem, a cidade é um silêncio gelado da madrugada e fedendo a urina e um cinza - Anhangabaú. e o que restou da manhã foi só o gosto amargo de cigarro na boca e o corte meio fundo da navalha que o vento do fim da tarde faz arder no pescoço. carpe diem.



Deftones - Rx queen

Nenhum comentário: