8.12.08

34 °

Um estralo violento e grave de trinta e quatro graus, meus olhos recem nascidos, renascidos da noite, estatelados e violentados, na janela contra os céus e o sol, pro inferno com a fragilidade das córneas! eu encaro o sol com um sorríso amargo de prostituta na face, pro inferno com o bem querer da manhã límpida, nem todos os dias que nascem em azul são bonitos, se os céus do inferno forem em azul serão um bom teto? eu aperto o aço morno da janela, eu aperto a minha face e meu mal gosto na boca, é tudo uma ferrugem, na mão na janela, no paladar, nos olhos apertados contra o maldito sol. Gosto dos dias frios de céu branco, como um imenso tapete de nada, um porvir de algo inconstruído, um em branco esperando um começo, gosto das gotas circulares nas folhas de mato, gosto do verde escuro das folhas, não desse verde amarelado que o sol rouba das folhas, o vento frio que corta o rosto, a garoa que espanca o chão como tiros certeiros nas feridas cinzas e sujas das calçadas, as minhas mãos suadas agora, as minhas mãos arroxicadas do frio, os dedos doloridos, é tudo um lembrar do viver quando se sente uma dor amena. A natureza é uma mãe tão justa que até quando te bate, é pra te ensinar alguma coisa, não espanca apenas com o intuito de ferir. Um cigarro na mão esquerda e um sorríso de prostituta contra os céus, pro inferno com este sol lindo da manhã que não me permite ser senhor de nenhuma criação, que não me permite sentir dor alguma, que não me permite sentir - me vivo, apenas um pedaço menor e doente de alguma coisa perfeita, pro inferno com essa beleza fatídica e imutável da manhã, pro inferno com essa perfeição cancerígena do sol.


"Sua carta nunca sobreviverá ao calor da minha mão, enterrando minha mão, minha mão suando. Seu amor nunca sobreviverá ao calor do meu coração, Meu coração violento... no escuro. "


Mark lanegan - Carry home

Um comentário:

Adriano Queiroz disse...

Caralho, eu não sei mais o que dizer.
Quanta imagem! Foda! Foda!
Não poupei palavrões.

Abraços.