7.11.08

Torpe

Um trago e o ar como arame farpado. silêncio e ferrugem, silêncio e o gosto amargo do ferro, da ferrugem salgada e vil, a vileza impenetrável de uma tarde abafada, tarde em estufa e efeito. O desenho torpe da fumaça sobe os encontros do azulejo acima, aos aleijos acima, em sua forma, em meus pensamentos acima, turvos e torpes... como a fumaça que desapruma a harmonia azul e límpida do céu da tarde, céu tardil. Eu sou um carro torpe subindo a ladeira em primeira marcha, eu despejo dióxido de carbono por todo o passeio, eu mato a cidade com meu motor torpe e poroso, meu motor de engrenagens gastas e força pouca contra o ingreme. Toda a deflagrada torpe nos meus passos largos e desassossegados, as pedras do chão em cinza, tão gastas, tão tortas e desniveladas entre si. Somos todos as pedras do chão do céu dum fim de tarde, somos todos irregulares e desnivelados, cinzas e gastos, onde os céus deflagram seus passos largos e desassossegados, aspirando da fumaça dos escapamentos e das minhas torpes narinas.




Isobel campbell & Mark lanegan - Who built the road

2 comentários:

Adriano Queiroz disse...

Todos nós matamos a cidade.
Somos o câncer do planeta.
Vivemos nesta grande fábrica de anestésicos.

Abraços.

Anônimo disse...

Matamos, cegamos,ensurdecemos, entorpecemos, anestesiamos a realidade, vegetamos até o cachorrinho dócil.
E tudo isso acontece até em baixo deste lindo céu azul de sabado.

Um beijo imenso, meu bem!