10.11.08

A normalidade parda e pulsante

Eu ando, mas meus pés já reclamam comigo por qualquer meia dúzia de calçadas, as pessoas e suas caras grossas de individualidade, meus sapatos e suas solas finas e gastas, meus dedos sufocados contra o plástico do calçado, comprimidos uns contra os outros, seguindo a vontade dos meus pés, da minha cabeça obtusa de pensamentos rasos e auto sustentáveis, meus pensamentos finos e gastos. passos perdidos subindo a escadaria da Nove de julho que dá na Caio prado, estaciono sobre uma poça d'água num dos intervalos da escadaria e acendo um de meus amassados cigarros, enquanto a chama falha eu me vejo tortuoso na poça, um desenho mal colorido de mim e do céu branco e pesado do fim da tarde. quatro segundos até acender o tabaco, um fio grosso de fumaça se despreende de mim e sobe livre do cigarro, de mim. eu continuo subindo a escadaria, explodindo todas as poças do caminho, magoando meus dedos contra o interno dos sapatos, cultivando cinzas dos meus tragos por toda Caio prado, seguindo a normalidade parda e pulsante de um fim de tarde tipicamente urbano, nesta terra de concreto e poças de espelhos sujos.



* A paz é um pedaço de bem querer feito com as letras que te deram como nome.


Uncle tupelo - Moonshiner

Um comentário:

Anônimo disse...

Me encanto com o ritmo das suas palavras, soltas, urbanas, com uma sútil camada melancolica... E tão suas, tão suas, tão suas.

Beijos meu bem querer!