21.10.08

Poema de Arseni Tarkovski

Agora o verão se foi
E poderia nunca ter vindo.
O sol está quente.
Mas tem de haver mais.

Tudo aconteceu,
Tudo caiu em minhas mãos
Como uma folha de cinco pontas,
Mas tem de haver mais.

A vida me recolheu
À segurança de suas asas,
Minha sorte nunca falhou,
Mas tem de haver mais.

Nem uma folha queimada,
Nem um graveto partido.
Claro como um vidro é o dia,
Mas tem de haver mais.

--- X ---

Cai a noite sobre as montanhas da Geórgia;
À minha frente ruge o Aragva.
Estou em paz e triste; há um lampejo em meus suspiros,
Meus suspiros são todos teus,
Teus, e de mais ninguém... Minha melancolia
Está insensível a angústias e apreensões,
E meu coração arde e ama mais uma vez,
Pois nada pode fazer além de amar.


Todo instante que passávamos juntos
Era uma celebração, uma Epifania,
No mundo inteiro, nós os dois sozinhos.
Eras mais audaciosa, mais leve que a asa de um pássaro,
Estonteante como uma vertigem, corrias escada abaixo
Dois degraus por vez, e me conduzias
Por entre lilases úmidos, até teu domínio
No outro lado, para além do espelho.

Enquanto isso o destino seguia nossos passos
Como um louco de navalha na mão.



. Arseni Tarkovski





2 comentários:

Anônimo disse...

Encontra-se Arseni na situação-título de "No Fio da Navalha" (Bill Murray indispensável em adaptação sobre William Somerset Maugham)bruta é sua idéia de existência. Seu poema é a transliteração etérea das imagens difusas do cinema superior feito por seu filho, Andrei Tarkovsky. "Nostalgia" dá uma clara (?) idéia sobre a busca de cada indivíduo neste plano. Talvez situar Pai e Filho num anticonvencional Cinema Espiritual não causaria assim tanto mal. "O Espelho" aniquila qualquer coisa em nome da Verdade assim como "O Sacrifício" de fato tortura... Amen! / ROBERTO OLIVEIRA oliveira_pr25@yahoo.com.br

Vaccu´s disse...

Boa colocação Robert oliver