20.10.08

O cão manco

O cão manco e já quase sem pelos, fuçando o lixo por fome. a criança pequena que sorrí e bate descompassadas palmas pela graça feita pelo estranho. o velho sentado num bar de esquina a observar, com a paz de quem já viveu sua vida, o que ocorre a seu redor. o rapaz que passa apressado com a coca - cola e um cigarro na mão esquerda, e a pressa toda do mundo nas pernas. o homem dos pés com solas escuras do andar descalço, enrolado num lençol, encostado num canto minimamente coberto, para se proteger da chuva, para se proteger de você, de mim, para se proteger dos nossos medos dele e de sua fome, de sua subexistência e da nossa. os carros e as buzinas e os berros e o blablabladear das bocas que falam por falar, bocas contra o silêncio. as crianças e os semáforos, as crianças e uns saquinhos de bala, as crianças e umas bolinhas de tênis, as crianças e suas mãos estendidas e suas barrigas vazias, as crianças. os casais que se amam com tanta intensidade que não vêem nada além do entre um metro e o dois que formam com seu par, amam pra sempre durante um mês ou dois. a senhora dos óculos grandes e ombros curvados, a esperar o coletivo, já tão cansada dos pés lhe sustentarem, o tempo... sim, o tempo. o sol no fim da tarde poluída, se escondendo entre as nuvéns que parecem que vão fazer choro, garoa... o sol que quer ir embora antes do dia acabar. eu.



Humble pie - Strange day

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