20.10.08

A sutileza perene das cousas

Por vezes eu me sento naqueles bancos vermelhos, bancos dos pontos de ônibus...
e observo a sutileza perene das cousas por elas mesmas, os detalhes que escapam ao mecânico dos olhos fartos: O homem que faz os brincos artesanais sentado na guia, mais hábil que as pernas que passam com tanta pressa por ele, com tanta pressa...
o morador de rua que vasculha com os olhos inquietos, os cantos da rua, procurando uma bituca de cigarro ainda fumável. uma criança pequena de mão dada com seu pai, maravilhadamente assustada com a forma com que os carros passam na avenida, a quantidade e a velocidade deles lhe causam expressões diversas no rosto, lhe levam a mão a boca e passos temerosos pras tras, os olhos postos as vezes ao pai, que não percebia o que acontecera, que perdia ali um momento impar na vida de sua criança.
a senhora de óculos tão grandes, dos olhos apertados contra o sol, passos vagarosos da idade, passos vagarosos entre as pernas hábeis e apressadas da avenida paulista, o mundo não espera seus passos vagarosos, o mundo não espera ninguém.
o coletivo que me leva pra casa vem, me tira do banco desconfortável de aço, me pondo em um outro não menos desconfortável de plástico.
Ainda pude ver a pequena menina sorrir antes de perde-la de vista dentro do ônibus, e a senhora idosa, sentou-se a meu lado, e pôs-se a dormir, sem pressa alguma em chegar.




George harrison - My guitar gently weeps

Um comentário:

Simone Oliveira disse...

Simples.
Singelo.
Bonito.

=)