28.10.08

Dogs

Acordar às cinco e quinze da manhã.
O cheiro agridoce e frio da madrugada e
a neblida que tira sangue do rosto do sol aos coiçes,
o dia demora pra parir-se.



"Você precisa ser louco, você precisa ter um motivo de verdade
Você precisa dormir sobre seus dedos dos pés
E quando você estiver na rua
Você precisa ser capaz de distinguir a carne fácil
Com seus olhos fechados
E depois se movendo silenciosamente
Contra o vento e escondido
Você precisa bater
No momento certo e sem pensar."

um vento gélido e um gosto amargo de café.
um vento amargo e um gosto gélido de café.
três goles de queimar a língua e uma brisa de gelar os ossos.


"E depois de um tempo, você pode trabalhar em pontos da moda
Como o clube da gravata, e o clube “firme aperto de mão”
Um certo olhar fixo nos olhos, e um sorriso fácil
Você tem que passar confiança para as pessoas que você mente
Para que quando elas virarem as costas para você
Você tenha a chance de esfaqueá-las."

rostos inchados de sono, olhos cansados, moribundos entre os narizes,
testas franzidas e lábios rachados...
toda uma construção pedande em mais ou menos 80 corpos
se intrelaçando dentro de um veículo feito de ferro,
latão e almas moídas...



"Você tem que manter um olho sempre aberto
Você sabe que isto está ficando cada vez mais difícil, difícil
Conforme você envelhece
E no fim você arrumará as malas, e voará em direção ao sul
Esconderá sua cabeça na areia
Apenas outro triste e velho homem
Sozinho e morrendo de câncer."


os solavancos, como murros do solo pra cima, da direita pra esquerda,
o azedume de alguns, os pisões e encontrões do mal caber,
as janelas fechadas e o rarefeito dos ares respirados repetidamente,
o vapor que não permite mais ver refletidos no vidro fosco do coletivo,
os rostos em tom ôpaco, desbotado, frio.



"E quando você perder o controle,
Você irá colher o que tem plantado
E á medida que o medo cresce,
O sangue ruim pára de correr e endurece
E é tarde demais para soltar o peso
Você costumava jogá-lo por aí
Então se afogue, enquanto você afunda sozinho
Arrastado para baixo pela pedra."


uma tonelada de silêncio em cada face,
uma constelação de astros completamente findados
de seus colápsos e escurecidos em cada vontade abstrata
aprisionada dentro de cada cabeça sonolenta e pesada
de carregar seus corpos calejados...



"Tenho que admitir que estou um pouco confuso
Às vezes me parece que eu estou sendo usado
Preciso ficar acordado,
Preciso tentar e sacudir esse mal-estar rastejante
Se não estou pisando em meu próprio chão,
Como posso encontrar a saída deste labirinto?''


e quem roubou a maior das tristezas do mundo e cravou
como uma flor desbodada no espírito de cada homem ?


"Surdo, mudo e cego, você apenas continua fingindo
Que todo mundo é dispensável
E ninguém teve um amigo de verdade
E parece que para você
A solução seria isolar o vencedor
E você acredita de coração, que todo mundo é um assassino."


e a cada curva vencida pelo coletivo, um encontro com o reflexo abafado
e gasto da janela. é você?
quem é o dono do rosto desconhecido na vidraça que lhe cabe ?



"Quem nasceu numa casa cheia de dor?
Quem foi educado a não cuspir no ventilador?
Quem foi que disse o que devemos fazer pelo homem?
Quem foi à falência através de pessoal treinado?
Quem estava usando colarinhos e correntes?
Quem cedeu um assento no banco das testemunhas?
Quem estava fugindo do público?
Quem estava sozinho em casa com um estranho?
Quem foi triturado no final?
Quem foi encontrado morto ao telefone?
Quem foi puxado para baixo pelas pedras?"



e todos ao fim do trajeto descem do coletivo sem deixar nada pra trás.

os cães sarnentos circulam por entre as pernas dos anônimos... é tudo uma normalidade caindo aos pedaços.



Sob as aspas a tradução de Dogs, do Pink floyd.



Um comentário:

Anônimo disse...

Vim dar uma cor pra esse espaço,rs.
Pois é, de tanto ouvir e ouvir, fez a conexão perfeita com a musica.
Um dos dons mais deliciosos é saber usar as palavras, e você sabe.

Beijocas.