26.10.08

Com os dedos intrevados de frio

Um calor que escorre dos dedos do diabo, de baixo pra cima e corrói as entranhas da terra até a superfície da minha face suada, do asfalto fervendo, deste dia borbulhante e febril. o fio de suor que escorre por minha perna, que se afina no tecido grosso da calça, minha paciência que se afina no tecido grosso do trânsito, dos semáforos, das pessoas e suas conversas intimístas e desinteressantes que não dizem respeito a ninguém, mas que são bradadas à plenos pulmões, dos pombos que beliscam o copo do mcdonalds no canto do bueiro e que são assoitados pelo morador de rua, que lambe esfomiado o resto pastoso de alguma porcaria industrializada que suja o fundo do copo. encostar o crânio no vidro do coletivo, roer unhas, balançar os pés, tactactear o plástico da lateral do coletivo,bufar bufar... o inferno do estágnado, do estar e permanecer, o não ir... o inferno absoluto de abrir e fechar o semáforo e o coletivo permanecer intácto em sua inflexibilidade a lá 34 graus. O diabo encosta as pontas dos dedos em brasa no sotão avermelhado de sua morada, e transpassa o fervor no assoalho deste miserável chão coberto de piche e gente. O diabo deve estar gelado agora, os carros não andam, isso aqui não anda, isso aqui não esfria... o diabo deve estar com as mãos gélidas agora, com os dedos intrevados do frio. uma gota escorre de minha testa e sucumbe no canto de minha sombrancelha. "L'enfer, c'est les autres".



Mark lanegan - Beggar's blues

Um comentário:

Adriano Queiroz disse...

Eu conheço este inferno aí.

Foda meu caro, foda!