19.1.10

Centro velho

O pombo chia algumas palavras ilegíveis no meio fio vazio do início da manhã.
cisca duas gimbas de cigarro e um plástico sujo do mcdonalds, não há muito o que se comer além de cigarros e mcdonalds nos encontros das ruas do centro velho.
Eu como os cigarros, como o silêncio pungente e agudo dos meus passos apressados e quebrados das calçadas, calçadas como pratos sujos, pratos dos pombos que chiam qualquer coisa balbuciada de forma ilegível, enquanto eu transpasso o silêncio abarratador com os estalos firmes dos meus passos meio frouxos do piso cansado e torto do centro velho.

migalhas sujas de barulho que infestam o meio fio das calçadas do centro velho.
e é tudo um chiar de coisas ilegíveis...

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4 comentários:

Unknown disse...

Ótimo texto! Profundo! "é tudo um chiar de coisas ilegíveis..." E assim ouvimos e avistamos a todo tempo, eles... Os chiados!

Fellipe disse...
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Mandi disse...

Gosto de caminhar pelo centro velho. Ultimamente venho desenvolvendo um ódio inexplicável em relação aos pombos (sempre quero pisá-los)... Mas enfim, talvez realmente as palavras criadas pelos pombos sejam as coisas mais legíveis dessa coisa toda.

*Descobri aqui procurando mais poemas do Arsenii T. Gostei muito, de verdade.

Arthur Meibak disse...

Aew, mano! Acho que eu nunca tinha passado por aqui.

Curti essas linhas. =]

Eu me senti no Anhagabau, indo trabalhar, às 8hs da manhã, enquanto lia isso. Pude, também, ouvir um "Tic-Tac", ao fundo. As horas passam.

Abraço!