24.4.09

Prumo

As calçadas mais sujas são as dos meus pés, as pernas e os dedos mais longos são os meus, posso tocar quase tudo, mas o tácto é quase imperceptível, meio dormente como caimbras ou areia nos olhos. posso ver os transeuntes a desviar das minhas pernas, daqui do alto apenas o ar acinzentado e os pensamentos colocam desvio sobre mim, pensamentos como pássaros doentes, pousados nos galhos das minhas orelhas, com suas penas crespas e saltadas, formando um casulo sobre seu frágil corpo, pássaros doentes... pensamentos libertos sobre minhas orelhas feitas galhos. daqui de cima por vezes permito - me não pensá - los, por vezes também concedo - me não olhar o entorno, eu e minhas pernas grandes de madeira corroída, deixo - me aos cupins, e vou sem religiosidade ou ateísmo com nada, somente deixo estar no estalo do chão, sem por coerência, sem fazer peso, no sopro grave do vento. é um prumo certo, é o prumo das árvores e dos postes e das horas, é o tempo coeso de saber metódicamente de si, é o prumo dos pássaros que voaram tão libertos e fírvulos no tempo de voar, e que se aceitam murchos e secundários a espera, num canto morno de árvore, no canto esquecido por agora nos galhos das minhas orelhas.


Damien jurado - Eye for windows

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