5.2.09

Tempo

Sentado e com as indulgências das horas, sentado e totalmente senhor do paralelismo a tudo o que for dispor meus músculos ao movimento, numa espécie de universo paralelo das cousas que me fazem eu, numa espécie de paralelismo universal de mim pelas cousas, das cousas por mim, num que de cousas e eu, sem distingüir cousas e eu. a janela aberta, a outra fechada, a porta vermelho - verniz, meu rosto de pensamentos abertos, meu rosto de pensamentos fechados, meu rosto pálido - verniz. as horas no estalo agudo do relógio de parede, as horas deitadas na parede e seus estalos agudos, as horas tão tácteis como se os segundos fossem pedaços de metal caindo dos céus em minha cabeça, o paralelismo universal da realidade das horas, da realidade incorruptível das horas. quem prendeu as horas no redondo e alvo objeto na parede? as horas transpassam o objeto na parede e perfuram todo o meu espírito, as cousas não prendem as horas, as cousas no máximo se prendem as horas, pois a hora há sem cousas, mas não há cousas sem horas. sentei - me aqui na cadeira mais certa dos meus pensamentos e sonhei, cinco minutos, uma hora, uma vida... não sei, só as horas do relógio redondo sabem, cochilei e acordei ofegante como em espamos de pensamentos, como se tivesse todos os pensamentos de uma vida em um instante de tempo, espalhei as órbitas doentes dos meus olhos contra o relógio, num afronte mudo de quem quer ofender, questionar de forma ofensiva o que me dera pra sonhar, o motivo pelo qual me deu uma vida toda em gotas estaladas de instantes, o relógio em contra partida nada me respondeu, apenas tictaqueou dentro de seu limitrofe ser que inventa imitar o tempo. ao seu lado há um Quadro, barcos rasgando um azul sujo de branco em direção. direção a que? aonde? apenas em direção, e se cem anos se passarem e se esta parede permanecer de pé, e este Quadro ali também permanecer, ainda estaram as embarcações indo em direção. daqui a cem anos minha matéria será uma fina camada de pó sob alguns punhados pesados de terra, e o tempo continuará sendo medido de forma simplória nestes relógios redondos que vivem nas paredes, e os barcos continuaram indo, apenas indo, no mais sólido uso do verbo ir. e eu já terei sido há tempos o que decidi e abdiquei de mim. A casa branca nau preta.


.

Nenhum comentário: