1.2.09

Margem

A margem mais certa do rio, a terceira margem de Guimarães que seja, a margem mais extrema do rio: lhe atiro uma pedra, e nada é - me respondido, além das ondas circulares que a dor do rio cria, que a pedra ao entrar no rio cria, que a pedra, que o rio, que... . A margem mais azul do rio, o incolor mais azul do rio, o céu disposto no rio, que a pedra faz tremer em ondas tão redondas e terrenas, que o rio acaba se tornando um céu que podemos fazer ferir; é, O rio é o céu que se permite ferir. A margem mais humana do rio, a margem que se permite a ofensa dos meus passos, dos meus pés, a margem que me permite um gole d'água e ver o sol morrer distante e laranja, morrer na margem extrema a minha, na margem onde só os deuses e os animais puros podem caminhar. Os céus estão desérticos e a margem mais arenosa dos rios dos meus pensamentos, sou eu, pelos cantos escuros dos pensamentos, incógnito, sou eu a terceira margem do rio de mim.



Feist - The water

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