23.11.08

vinco dourado em brasa

eu rasgo os céus noturnos com um vinco dourado em brasa e aponto meus dedos como se fossem uma arma, em direção a fortuna desgraçada do incerto, meus erros propositais, e que não haja uma letra maiúscula aqui, que não me perdoem por nenhum berro chulo que meus passos débeis construírem neste chão público e de ninguém, meus ombros atritam com os desafortunados e lentos transeuntes dos cinco palmos de calçada que cabem aos com pernas e não com rodas, o estralo das vértebras do pescoço e um trago, dois tragos, eu sou o maldito gerúndio do verbo ir, o inacabado, o ineterrúpto, o inominado, sem um maldito ponto final, sem ao menos um maldito ponto final...


eu rasgo os céus noturnos com um estilhaço flamejante e vívido, disperçando fumaça por entre meus rachados lábios, e aponto meus dedos alvos e maculados de nicotina, como se fossem um enferrujado revolver, em direção a sorte da penumbra de cada esquina incerta, sem um parvo ponto final ou uma demente letra maiúscula


______________________________________________



" O olho vivo com que vês
Até o seu conteúdo
Me aparta de minhas vestes
E como um deus vou desnudo"


A vendedora de roupas
Stéphane mallarmé



mark lanegan - skeletal history

2 comentários:

Anônimo disse...

E onde está a maldição, de estar sempre indo? De não ter um ponto final? Da surpresa do inesperado na proxima esquina?

Eu seguro sua mão.

Me perco em suas palavras.

Beijos amor meu!

Thais Michele Rosan disse...

ótimo texto, palavras bem escolhidas.
Parabéns