7.12.08

Tempo

Sentei - me à todas as más conclusões de mim, à margem alta do inacabado, e meus pés mesmo com estas pernas tão longas, não tocavam o chão. sentei - me e com minhas mãos de homem, segurei todas as minhas inconclusões entre as palmas e os meu dez dedos, e não há criança no mundo com dedos e palmas menores que os meus, sentei - me a balançar os pés no ar e a deixar todas as minhas inconclusões cairem por entre meus pequenos dedos, de forma meticulosamente descuidada.
Derramei as poucas inconclusões que cabiam firmes em minhas mãos, se não posso segurar todas, então me ponho a segurar nenhuma.
O cigarro amassado no bolso, o esqueiro de fogo falho e a certeza do imediatismo como maior das conclusões, a certeza do agora como certeza absoluta e pungente, como o agora neste céu de um azul escurecido das dezenove horas, da mancha cinza que sai do meu pulmão e suja o azul póstumo do dia, do meu murmurar de alguma velha música apenas para quebrar o silêncio de mim mesmo, as pequenas e sujas coisas que vão se intercalando e compondo este gerúndio de agoras, o imediatismo irremediável de se viver cada instante de cada vez. O irremediável de ter plena consciência do Tempo.



Mark lanegan - Man in the long black coat

2 comentários:

Anônimo disse...

É nesse tempo todo cheio de inconclusões e de céu borrado de cinza, que eu amo cada instante mais fazer parte. Se tuas mãos se fazem pequenas, eu seguro pra você!

Beijos amor.

Adriano Queiroz disse...

Caraca, maravilhoso!
"compondo este gerúndio de agoras, o imediatismo irremediável de se viver cada instante de cada vez.", vc é primo da Clarice?
Esta dureza e crueza do seu cinza é de fina trato.

Abraços.