12.4.16

Talho


Sempre apaixonada,
sempre caçando um canto,
sempre contando um conto,
sempre trocando um tanto,
sempre fugindo em bando,
sempre assim a vida tocando,
pois sempre fica enjoada.

Sempre desinteressada,
sempre pela metade,
sempre desajeitando a verdade,
sem muito gosto pela piedade,
sempre com a presença apressada.

sempre em pulso a alma que fita,
sempre com olhar desassossegado,
com tempo medido, regrado,
um pé no presente, outro no passado,
num partir descompassado,
num aqui nunca firmado,
num futuro ritmado,
num ir e ir e ir de alma aflita.

sempre remendando,
sempre cosendo um ponto, costurando,
um pano em outro pano emendando,
um talho em outro talho se descarnando,
um beijo em outro beijo remendando,
sempre frustrando e se frustrando,
sempre pela paz distante ansiando,
de atalho em atalho caminhando,
sempre no retorno a si repousando:
coberta com o lençol de pano,
que coseu tentando e tentando e tent...
por tanto se enjoar.
por dançar a vida em desassossego.

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