Uma folha borrada de preto, esquecida num quintal a céu aberto, molhada da garoa fina da madrugada, a révoa despreocupada do pernoite, uma folha branca com borrões pretos, é este céu que acordou hoje. suas nuvéns escuras e disformes correndo com o vento para o Norte, desenhos tão enormes que se me ponho perto, seria como um grão de areia na sola dos sapatos de um gigante. as nuvéns, essas gigantes e escuras, são tão senhoras do seu tempo e do seu caminho que parece que nada as pode afligir, ao passo que qualquer coisa que voe à sua altura pode lhe tirar fragmentos, que o sol e as gotas se forem muito pesadas, podem as dissolver, as fazer tão pequenas quanto eu, até menores, até nada. As nuvéns gigantes e negras voam certas e concretas, senhoras do céu, empurradas pelo vento para o Norte, são tão donas dos céus que nada mais faz cor ou forma nos olhos além delas, e logo elas irão chover, e os céus serão azuis dinovo, e nada restará das nuvéns negras e gigantes, além das poças sujas nas sargetas. mas elas não me parecem pensar nisso, não me parecem metódicas quanto ao seu fim, quanto a serem tão maiores que eu ou donas dos céus, nem que acabaram mais negras que agora são, num miudo de meio litro num buraco sujo e disforme de calçada,que agora abraçam o mais azul que há neste mundo, e que logo abraçarão a sujeira que agora é par com meus sapatos, elas apenas voam, senhoras do seu tempo e de sua realidade, e há toda uma filosofia pungente na sua vida breve.
Dido - Do you have a little time
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