14.10.08

Como um velho blues

Desço do coletivo já com o cigarro na boca, dois pés na sargeta... dois toques no esqueiro, um trago. meia noite e apenas duas pessoas na rua: uma senhora encolhida no canto iluminado da via, provavelmente esperando sua filha retornar da escola e um homem velho... sentado no canto mais alto da sargeta, com uma garrafa envolta num saco de papel, tomando seu trago... cantarolando aos murmuros de forma mole e ilegível, sua canção de poucas palavras. meus passos como um velho blues macio e gasto, blues como os sapatos mais confortáveis que pode haver neste desgraçado mundo. viro a esquina que dá pra rua de casa e a velha senhora está lá com suas sacolas, ela tem a mania de andar de madrugada dando de comer aos cães de rua, eles a cercam e correm a seu redor, com uma notada alegria, uma alegria dígna de crianças inoscentes. meus olhos como um velho blues manso e conformado, blues como os olhos mais velhos e cheios de sabedoria que esta terra ainda tem acordados sobre si. abro o portão com a certeza absoluta que tenho tanto a aprender nesta vida quanto quem nascera ontem.




Songs: Ohia - Long desert train

2 comentários:

Adriano Queiroz disse...

Muito bem escrito.
É bom ler vc cara.
Que maravilha que atualizou o blog.

Inté.

Anônimo disse...

"A certeza absoluta que tenho tanto a aprender nesta vida quanto quem nascera ontem". Acho que era a frase que eu precisava ler.

Obrigada.